Autores: Paulo Henrique Braz, Bruna Mondador de Lima, Bruna Luiza Canterle Cabanha, Luciana Antunes Marques, Monique Maciel Volpato, Juliana Arena Galhardo.
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Citação:
Braz, P. H..; Lima, B. M., Cabanha, B. L. C.; Marques, L. A.; Volpato, M. M.; Galhardo, J. A. 2018. Educação em saúde para alunos do primeiro ano do ensino fundamental sobre a leishmaniose em seres humanos e animais. Pubsaúde, 1, a003. DOI: https://dx.doi.org/ 10.31533/pubsaude1.a003
Editor: Pubsaúde.
Recebido: 22 fev. 2018;
Aprovado: 10 mar. 2018;
Publicado: 20 mar. 2018
Licenciamento: Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 (CC-BY 4.0), a qual permite uso irrestrito, distribuição, reprodução em qualquer meio, desde que o autor e a fonte sejam devidamente creditados.
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Conflito de interesses: Os autores declaram não haver conflito de interesse.
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Resumo
Objetivou-se avaliar o conhecimento de alunos do primeiro ano do Ensino Fundamental a respeito das formas de prevenção, contágio e sintomas em seres humanos e animais infectados por Leishmania spp. A leishmaniose, considerada mundialmente uma doença negligenciada, é uma zoonose crônica causada por um protozoário intracelular do gênero Leishmania, cuja transmissão ocorre através da picada de um vetor flebotomíneo. Foi aplicado um questionário semiestruturado para 56 crianças, antes e depois de realizarem atividades lúdicas acerca da leishmaniose. Foi possível constatar que após a realização das atividades e reaplicação do questionário, todas as crianças foram capazes de responder corretamente às perguntas reaplicadas. A educação em saúde demonstrou ser um método eficaz para ser trabalhado com crianças do ensino fundamental, utilizando-se de atividades lúdicas de ensino. O trabalho teve suas expectativas alcançadas ao obter resposta positiva de aprendizado junto às crianças participantes do projeto, demonstrado, inicialmente, por não terem conhecimento a respeito da leishmaniose em animais e seres humanos e ao, final do projeto, saberem desenvolver raciocínio sobre formas de prevenção, controles clínicos e sintomas dessa doença.
Abstract
Health education for first year elementary school students on leishmaniasis in humans and animals
The objective of this study was to evaluate the knowledge of first year students of Elementary School regarding the forms of prevention, contagion and symptoms in humans and animals infected by Leishmania spp. Leishmaniasis, considered a neglected disease worldwide, is a chronic zoonosis caused by an intracellular protozoan of the genus Leishmania, whose transmission occurs through the bite of a phlebotomine vector. A semistructured questionnaire was applied to 56 children, before and after performing playful activities about leishmaniasis. It was possible to verify that after performing the activities and reapplication of the questionnaire, all the children were able to answer correctly the questions reapplied. Health education has proven to be an effective method for working with elementary school children using playful learning activities. The work had its expectations reached when obtaining a positive response of learning to the children participating in the project, demonstrated, initially, because they did not know about leishmaniasis in animals and humans and at the end of the project, they were able to develop reasoning about prevention, clinical controls and symptoms of this disease.
Keywords: education in health, public health, zoonoses.
Resumen
Educación en salud para alumnos primer año de la Enseñanza Fundamental sobre la leishmaniasis en seres humanos y animales
Se objetivó evaluar el conocimiento de alumnos del primer año de la Enseñanza Fundamental acerca de las formas de prevención, contagio y síntomas en seres humanos y animales infectados por Leishmania spp. La leishmaniasis, considerada mundialmente una enfermedad olvidada, es una zoonosis crónica causada por un protozoario intracelular del género Leishmania, cuya transmisión ocurre a través de la picadura de un vector flebotomíneo. Se aplicó un cuestionario semiestructurado para 56 niños, antes y después de realizar actividades lúdicas acerca de la leishmaniasis. Se pudo constatar que después de la realización de las actividades y reaplicación del cuestionario, todos los niños fueron capaces de responder correctamente a las preguntas reaplicadas. La educación en salud demostró ser un método eficaz para ser trabajado con niños de la enseñanza fundamental, utilizando actividades lúdicas de enseñanza. El trabajo tuvo sus expectativas alcanzadas al obtener respuesta positiva de aprendizaje junto a los niños participantes del proyecto, demostrado, inicialmente, por no tener conocimiento acerca de la leishmaniasis en animales y seres humanos y al final del proyecto, saber desarrollar raciocinio sobre formas de prevención, controles clínicos y síntomas de esta enfermedad.
Palabras clave: Educación en salud, salud pública, zoonosis.
Introdução
Uma das formas de expandir o conhecimento da população quanto às diversas doenças existentes é a educação em saúde. Esse modelo de educação pode ser aplicado em diversos locais em que são realizadas atividades profissionais, como hospitais, salas de aula e unidades de saúde (Baldoino & Veras, 2016).
De acordo com o Art. 205 da Constituição Federal de 1988, a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, sendo incentivada e promovida com a colaboração da sociedade, objetivando levar ao desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o mercado de trabalho e exercício de sua cidadania (Brasil, 1988). Desta forma, a promoção à educação em saúde permite ao cidadão, não apenas obter o conhecimento pedagógico fornecido pelas instituições de ensino, mas, sobretudo, o direito à saúde nos mais diversos âmbitos, os quais envolvem desde a profilaxia e o controle das moléstias até ao conhecimento dos sintomas apresentados pelos indivíduos contaminados (Ferreira; Silva, 2008).
A leishmaniose, considerada uma doença negligenciada no território brasileiro, é uma zoonose crônica, determinada por um protozoário intracelular do gênero Leishmania, cuja transmissão ocorre através da picada de um vetor flebotomíneo, o Lutzomyia longipalpis (Cortes et al., 2012) e na ausência de tratamento, resulta em casos fatais (Dantas-Torres & Brandão-Filho, 2006, Dantas-Torres, 2006). O mecanismo de transmissão da leishmaniose envolve complexas interações entre o parasito, os vetores, os hospedeiros vertebrados e os diferentes ecótopos (Dantas-Torres et al., 2012) .
Essa doença está entre as seis endemias com maior prioridade, segundo a Organização Mundial de saúde (OMS), enquanto a Secretaria de Vigilância em Saúde brasileira descreve que a maior disseminação está relacionada aos aspectos sanitários do indivíduo (Brasil, 2003). Em grande parte dos casos, quando a doença é descoberta, o parasito encontra-se incubado no paciente, o que gera o total de casos divulgados pela vigilância, inferior ao encontrado na população (WHO, 2010).
Na cidade de Dourados, Mato grosso do Sul, casos de Leishmaniose em cães têm sido identificados pelo Centro de Controle de Zoonoses desde 2003. Em 2007 houve a notificação oficial da presença de Lutzomyia longipalpis, em área urbana da cidade, causando alerta às autoridades sanitárias, dado ao risco de epidemia de leishmaniose visceral (Almeida et al., 2010).
O presente estudo objetivou avaliar o conhecimento de alunos do primeiro ano do Ensino Fundamental a respeito das formas de prevenção, contágio e sintomas em seres humanos e animais infectados por Leishmania spp em duas instituições de ensino de Dourados, Mato Grasso do Sul.
Material e Métodos
O estudo foi realizado a partir de dados obtidos à execução do projeto de extensão universitária “LeishNão: educação sanitária como ferramenta de controle e prevenção da leishmaniose em Dourados – MS”. Para a execução do projeto foram elaboradas cartilhas contendo material educativo direcionado às crianças, além de formulação de atividades lúdicas, como contos apresentados em forma de gibis e teatros, para as atividades de educação em saúde.
O projeto desenvolveu-se em uma escola em área urbana e em um assentamento rural, ambos localizados no Município de Dourados, MS, com alunos do primeiro ano do Ensino Fundamental. Na escola, 36 crianças participaram do projeto, enquanto no assentamento obteve-se o total de 20 crianças participantes.
Inicialmente o projeto foi apresentado ao corpo pedagógico da escola para posterior aprovação. Sequentemente, em visitas seriadas, foi aplicado para os alunos o questionário semiestruturado, contendo questões objetivas sobre a leishmaniose como doença clínica, mecanismos de transmissão, reservatórios, vetores e medidas de prevenção e controle.
Após a aplicação do questionário foi realizada uma apresentação em forma de quadrinhos/gibis, em formato multimídia com o auxílio de computador e projetor.
A história narrada tematizava as formas de prevenção da leishmaniose em seres humanos e animais, o que proporcionou a interação junto aos alunos incentivando a participação de todos no decorrer da narrativa.
Após o fim da apresentação a apresentação, os alunos foram separados em grupos de 4 alunos para realizar a distribuição das cartilhas, contendo recortes e imagens para colorir e caça-palavras.
Os acadêmicos, participantes do projeto, mostravam as atividades da cartilha aos alunos e os conhecimentos sobre a doença eram reforçados. Ao final das atividades, o mesmo questionário foi reaplicado para avaliar o nível de aprendizagem e a fixação do conteúdo.
Resultados e Discussão
A escolha em trabalhar junto às crianças, ainda em anos escolares inicias, se deu em função do fato de ser pressuposto que essa fase da vida é um dos momentos ideais para apresentar medidas de higiene, as quais devem ser desenvolvidas na rotina diária. Nessa etapa, as crianças têm curiosidades voltadas às diferentes descobertas, buscando entender o porquê devem adotar determinadas práticas.
A educação em saúde e a promoção da saúde devem estar associadas gerando as possibilidades de informações e conscientização da qualidade de vida do indivíduo (Baldoino & Veras, 2016), dessa forma a proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso aos processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças (Secretaria de Educação Básica, 2010).
Ao analisar os dados, referentes ao primeiro questionário submetido aos alunos, foi possível notar que esses alunos não tinham qualquer conhecimento a respeito das formas de prevenção, contágio e sintomas que animais e seres humanos podem apresentar quando contaminados com o protozoário Leishmania. Apenas alguns alunos fizeram correlação com outras doenças como a dengue. Uma vez que há compreensão pelas crianças da devida importância de se adotar costumes de prevenção de doenças, essas passam a executá-las em suas rotinas, além de serem replicadoras, aos seus familiares, do conhecimento obtido (Ferreira & Silva, 2013).
Essa menção é de grande importância visto que, após a realização das atividades lúdicas para conhecimento, compreensão e fixação do conteúdo proposto, todas as crianças foram capazes de responder novamente ao questionário. A maior parte das crianças sabia contar a história do gibi, anteriormente apresentada, destacando o vetor flebotomíneo, conhecido por elas como mosquito palha, assim como os principais sintomas apresentados em seres humanos e em animais domésticos. Além disso, após a dinâmica lúdica todas as crianças souberam as formas de prevenção da leishmaniose, com destaque para as principais ações voltadas à prevenção, entre elas a utilização de coleiras repelentes em cachorros, além da higienização dos locais em que residem, eliminando todas as matérias secas dos quintais.
A formação complementar de alunos da rede básica de ensino, exercida pela extensão, propicia melhor aplicação dos conhecimentos adquiridos durante o ensino teórico de doenças vetoriais, que, em geral, são disseminados pela disciplina de ciências, tornando esse conteúdo prático e próximo à realidade daqueles que estão aprendendo (Mendes et al., 2010).
Para que o aluno tenha a oportunidade de aprender, é necessário que o mesmo tenha um ambiente facilitador e que ocorra interação aluno-professor, propiciando ao mesmo desenvolver seu potencial intelectual (Araujo & Vieira, 2013, Arabshahi et al., 2015).
Embora a leishmaniose tenha sido o alvo abordado em sala de aula, um dos resultados obtidos foi a possível associação entre doenças vetoriais. As crianças puderam demonstrar a correlação entre diferentes doenças vetoriais, sobretudo, a semelhança na prevenção entre outras doenças associadas.
Conclusão
A educação em saúde demonstra ser um método eficaz a ser trabalhado com crianças de anos iniciais, por meio de atividades lúdicas de ensino. Houve resposta positiva de aprendizado em todas as crianças participantes do projeto, demonstrado não terem o mínimo de conhecimento a respeito da leishmaniose em animais e seres humanos e, ao final do projeto, saberem desenvolver raciocínio acerca das formas de prevenção dos controles clínicos e sintomas dessa doença. Foi possível notar que embora a leishmaniose seja uma doença existente no Brasil, há desconhecimento da população a respeito da mesma, visto que outras doenças, como a Dengue, eram facilmente reconhecidas pelos alunos.
Referências
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